Outro lado

Saldo negativo: Streaming dos clubes desconhece público alvo e está longe de enterrar TV aberta

Divulgação

Heitor Olímpio e João Vítor Castanheira

Após 17 anos, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) voltou a exibir em sua grade de programação uma partida de futebol de clubes do Rio de Janeiro. A TV aberta de Silvio Santos transmitiu a vitória do Flamengo sobre o Fluminense, na última quarta-feira, que culminou no 36º título carioca do Rubro-negro.

A volta para alguns torcedores rubro-negros foi vista como uma acalanto, uma vez que os jogos do time carioca vinham sendo transmitido via streaming pelo canal oficial do clube no Youtube, a FlaTV. O formato é popular no Brasil para séries, shows, documentários e filmes, contudo, ainda não cativou quando o assunto é futebol.

– A TV aberta é uma mídia ainda necessária porque você fala com muita gente ao mesmo tempo, algo que por enquanto outras mídias ainda não conseguem atingir. Fora que você tem um contrato no qual você recebe antecipadamente pode até mesmo negociar uma antecipação futura de vencimentos futuros. E é uma garantia de receita realmente necessária ainda para o futebol brasileiro mesmo para Flamengo – analisa Edison Goulart, publicitário e torcedor rubro-negro.

Para Rogério Braga, consultor no ramo com mais de 20 anos de experiência no mercado, o desconhecimento dos clubes em torno da plataforma é o óbvio e principal empecilho para o sucesso das transmissões de futebol via internet no Brasil:

– Entendo que o consumidor está aberto a mudanças e não atrapalha. Se ele receber um produto de qualidade pelo streaming , certamente esse formato ganha mercado. É preciso fazer uma transição e isso não vem sendo feito. As TVs dos clubes e o streaming ainda não conhecem esse público do futebol. Talvez as TVs corporativas conheçam seus torcedores e ainda é pouco.

Um novo cenário mais que ainda não atinge todo o país

Esse mesmo texto que você, leitor acompanha, com os olhos no Portal ENM, só foi possível graças ao advento da internet. Desta forma, mesmo vital para diversos âmbitos da sociedade, no Brasil, muitos ainda convivem com a exclusão digital.

Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, mostra que uma em cada quatro Brasil não tem acesso à internet no Brasil. Um números total de cerca de 46 milhões de brasileiros que não tem acesso ao YouTube e, consequentemente as TV’s do Flamengo e Fluminense.

A amostra do IBGE mostra, no entanto, que o percentual de brasileiros com acessos à rede aumentou no país de 2017 para 2018, passando de 69,8% para 74,7. Cerca de 25,3% ainda estão não estão conectados. Na área urbana, é menor, chegando à 20,6%.

Quando perguntadas sobre as dificuldades, quase a metade das pessoas que não têm acesso à rede (41,6%) disseram que o motivo para não acessar é não saber usar. Uma a cada três (34,6%) diz não ter interesse. Para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é caro, e para 5,7%, atrapalha o alto valor dos equipamentos necessários para acessar a internet, como celular, laptop e tablet.

Os recordes dos streamings

Durante a reta final do Campeonato Carioca, foi assinada a Medida Provisória 984/2020, que altera os direitos de transmissões, dando poder para os mandantes de definir e negociar onde os seus jogos vão passar. Assim, Vasco, Fluminense e Flamengo tiveram seus jogos transmitidos no Youtube.

A FluTv alcançou uma marca histórica de uma transmissão feita pela plataforma na final da Taça Rio contra o rival Rubro-nego na última quarta (8). Foram 3,6 milhões de expectadores simultâneos, com quase 6 milhões de usuários únicos. Já a FlaTv que, transmitiu o jogo contra Boavista (quinta rodada da Taça Rio) e Volta Redonda (semifinal da Taça Rio), alcançou 5 milhões de seguidores em seu canal e o posto de top 3 e canais de clubes do mundo.

Contudo, o desafio de como alcançar a todos parece ser uma estrada longa, visto que no ano passado, na final da Taça Rio, o clássico entre Flamengo e Vasco com partida transmitida pela Tv Globo o alcance foi de 34 pontos de audiência, com participação de 60% das televisões ligadas. Segundo a medição do Ibope, no Rio de janeiro e na região metropolitana, cada ponto é equivalente a 46.175 residências (ou 118.440 telespectadores).

Um dos fatores que atrapalha um maior alcance das tevês corporativas é popular ‘clubismo’. A parcialidade demonstrada, tanto por Flamengo, como por Fluminense, em suas transmissões, foi um dos destaques negativos. Saber equilibrar o ufanismo e a informação, segundo Rogério Braga, é uma das chaves para o streaming dos clubes prosperar.

– Até aqui, a comunicação é voltada aos seus torcedores e parece óbvio, mas precisa combinar com os patrocinadores. Depois fazer jornalismo imparcial é fundamental, pois mesmo os mais fanáticos percebem os excessos. E por fim entender que mesmo sendo TV corporativa tem que exercer a função de informar e não deformar.

A tentativa do Flamengo de cobrança de R$ 10,00, por meio da plataforma ‘MyCujoo’ para os espectadores interessados no duelo contra o Volta Redonda foi outro fracasso retumbante. Rogério, porém, destaca que a monetização é um caminho sem volta, mas lembra: a qualidade do produto final ditará o sucesso das vendas.

– Os clubes ainda não conhecem o produto e está em fase de acertos e erros, quando deveria ser melhor planejado. A monetização será inevitável e precisa entender alguns pontos. Quanto cobrar? Se cobrar, o produto chegará com qualidade ao cliente? Ele tem estrutura para suportar a transmissão em seus aparelhos? São muitos fatores que podem determinar uma boa ou má experiencia do consumidor. E isso vai determinar se ele vai continuar a comprar na plataforma ou torcer para que passe na TV – explica Rogério.

CONSUMO DO BRASILEIRO NO STREAMING

Um estudo do portal Meio & Mensagem, em parceria com a plataforma de pesquisa Toluna, revela que no Brasil 53,2% das pessoas que assinam alguma serviço de streaming assistem a conteúdos todos os dias. O que nos coloca em um top 10 muito importante. A App Annie, companhia focada em monitorar a performance de aplicativos, levantou uma pesquisa e o Brasil ocupa a sexta posição entre os maiores consumidores de plataforma meio streaming de filmes e séries do mundo, a frente de Japão e Estados Unidos.

Segundo a pesquisa da Toluna que ouviu 826 pessoas entre as classes A, B, C, D, E nove em cada dez usam serviço de streaming aqui no território nacional.

Enquanto o 5G não vem…

É comum que a rede sofra instabilidade, acarretando travamentos e “bugs”, na linguagem popular. Em dado de 2018, o uso da rede 4G no Brasil teve um acréscimo 61%, o que representa mais de 107 milhões de brasileiros com acesso quarta geração de rede. O estudo foi feito pela associação das empresas de telecomunicações. O que manda em cobertura no Brasil, ainda segundo a pesquisa, é o 3G. As redes de terceira geração estão presentes em 5.151 municípios, enquanto o 4G chega a 3.861 cidades.

Diferenças entre 3G e 4G

. 3G – Com essa tecnologia foi possível pela primeira vez enviar fotos e vídeos para outros aparelhos – saindo da era do texto como única forma de se comunicar entre celulares.

. 4G – Chegou por volta de 2010 e se mantém até os dias de hoje possibilitou um bom ganho em velocidade e com isso, permitindo baixar conteúdo, realizar transmissões online e fazer grande parte das tarefas que para a gente é mais do que normal – como ouvir música, assistir séries etc.

Este fator técnico é preponderante para a boa experiência do usuário. Sem boa conexão, o espectador está sujeito a oscilações e “bugs” na rede no momento do gol de seu time de coração, e além da frustração ao ouvir o vizinho reagir, com a voz nas alturas, ao lance que você ainda não viu.

O ‘futuro’ das transmissões está batendo à porta. Mas, para conquistar o torcedor, seu principal alvo, a produção dos canais corporativos brasileiros ainda têm muito a evoluir.

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