O que esperar de uma Libertadores quando seu time é vice-campeão brasileiro e contratou um treinador estrangeiro? Muitos poderiam dizer o título, mas em 2010 o Inter não entrou na competição como favorito, para o bicampeonato. Na época, o colorado era muito mais um azarão diante de outros times, recheados de craque, do que candidato real ao caneco.
O São Paulo, por exemplo, tinha Miranda na zaga, Corinthians vinha com Ronaldo Fenômeno de 9, o Flamengo, atual campeão brasileiro, era comandado por Adriano Imperador, o Cruzeiro era o vice-campeão da competição e o Estudiantes, da Argentina, defendia o título com Verón organizando o meio-campo. Além deles, diversos outros atletas tinham a capacidade de dificultar a vida do clube Gaúcho, rumo ao bicampeonato continental.
Mas foi assim, contra todas as estatísticas e probabilidades, que o Inter conseguiu o bicampeonato da Libertadores, em 2010. Através de uma trilogia de reportagens, buscaremos relembrar a campanha colorada rumo a uma dos maiores triunfos do clube. Isso porque, na próxima terça-feira (18), fecham 10 anos da conquista, que certamente ainda está viva na memória de muitos torcedores.
Bicampeonato com pontapé inicial de Nei
Era 23 de fevereiro de 2010 quando o sonho de um bicampeonato começava no Beira-Rio. Naquela noite, uma terça-feira, o Inter encarava o Emelec, do Equador, na estreia da Libertadores da América. Mesmo nunca tendo sido campeão continental, o time estrangeiro era um dos mais tradicionais do país e, certamente, não venderia barato o resultado.
De fato, foi isso que aconteceu. Durante todo o primeiro tempo, o time colorado, comandado por Jorge Fossati, não conseguiu avançar as linhas e nem ameaçar muito o time equatoriano. Para piorar a situação, na volta do intervalo, logo aos três minutos, o Emelec abriu o placar com Quiroz. Com isso, a pressão, resultado de toda uma expectativa da torcida pelo bicampeonato, no estádio começou a surgir. Mas foi aí que, em um lance teoricamente despretensioso, um personagem “tirou um coelho da cartola”.
Lateral-direito, mas que também podia atuar como zagueiro, Nei nunca foi um exímio finalizador. Sabia cobrar bolas paradas, mas, com a bola rolando, não era muito efetivo. Mesmo assim, após driblar o lateral adversário, resolveu arriscar de muito longe. Resultado? Uma bomba, na gaveta, que é lembrada, até hoje, como um dos gols mais bonitos do Beira-Rio e como um belo pontapé inicial na campanha do bicampeonato.
O próprio Nei, aliás, lembra de vários detalhes do ocorrido. Em entrevista para o grupo “GaúchaZH”, ele falou sobre suas memórias do lance: “Lembro que estava chovendo, estava 1 a 0, a gente não se encontrava no campo e não vinha fazendo um jogo bom. Mas tive a felicidade de receber uma bola do Sandro, driblar o lateral deles e ter a sorte de acertar um chute muito bonito. Todo mundo lembra porque foi o começo da virada rumo ao bicampeonato”.
Após o gol, o Inter ganhou confiança e começou a pressionar o Emelec. Mesmo assim, só foi conseguir a vitória aos 43 minutos da etapa final com Alecsandro. Mas, o mais importante foi alcançado, os três pontos ficaram no Beira-Rio. Estava aberta a campanha em busca do bicampeonato.
“Pato” Abbondanzieri anula pênalti em Quito
E, se na estreia a atuação não era tão boa, até o gol de Nei, na segunda rodada não foi diferente. No confronto, contra o Deportivo Quito, no Equador, o empate passou, e muito, pelo goleiro argentino Abbondanzieri. Com experiência até em Copa do Mundo, por sua seleção, o goleiro salvou o Internacional, da primeira derrota na busca pelo bicampeonato. Porém, não foi pelas defesas do arqueiro que o jogo ficou conhecido.
Já com o jogo empatado em 1 a 1, gols de Minda, para o Deportivo Quito e Giuliano, do Internacional, o juiz da partida marcou um pênalti, para os equatorianos. No lance, Abbondanzieri se chocou com o atacante Pirchio, após já estar com a bola em mãos. O juiz então, de forma esquisita, assinalou a penalidade máxima. Na sequência, qualquer jogador iria se irritar, partir para cima do árbitro e falar caras e bocas, mas não o argentino.
No alto de seus 37 anos, o goleiro usou sua experiência, manteve a calma e contornou a situação. Ao invés de reclamar com o juiz, foi até o bandeira, que tinha uma visão mais clara do lance. Após mais de um minuto argumentando, ao pé do ouvido do auxiliar, o mesmo chamou o juiz e avisou que Abbondanzieri já estava com a bola sob seu controle, no momento do choque. Sabendo disso, o árbitro se viu obrigado a voltar atrás. Pênalti revertido e, com certeza, uma das histórias mais inusitadas daquela campanha pelo bicampeonato. Afinal não é todo dia que se vê um goleiro conseguindo anular um pênalti.
A invasão em Rivera
Sabendo da força da torcida colorada, e graças a proximidade do Uruguai com o Rio Grande do Sul, a diretoria do Cerro propôs uma mudança ousada. Natural de Montevidéu, capital do país, o time azul e branco não tem uma torcida muito grande e, com isso, apostou na mudança de sede para aumentar a renda naquele jogo. O que eles não contavam é que a motivação da torcida do Inter, pelo bicampeonato, era tamanha, que resultaria em uma invasão de torcedores vermelhos na cidade da disputa.
Distante apenas 496 km de Porto Alegre, algo em torno de 8 horas de viagem, Rivera é uma cidade pequena, de fronteira. E, naquele fatídico mês de março, se viu tomada de colorados, empolgados pela possibilidade de um bicampeonato. Segundo os jornais e repórteres da época, eram mais de 20 mil torcedores do Inter nas ruas da cidade. Até churrasco nas calçadas e muitos cânticos, durante um dia inteiro, foram vistos nas ruas do município.
Porém, infelizmente para os torcedores, a partida não foi muito animada. Dentro de um modelo mais reativo fora de casa, mesmo tendo a imensa maioria da torcida a seu favor, no estádio Atílio Paiva, Jorge Fossati não estimulou muito o ataque na equipe. E o resultado acabou em um fraco 0 a 0, com muito mais toque de bola do que finalizações.
Outros confrontos rumo ao Bicampeonato
Inter 2×0 Cerro
Pressionado pelo resultado positivo, afinal não era o líder do grupo até o momento, os atacantes fizeram a diferença. Contra o modesto time uruguaio, Alecsandro e Walter reacenderam a empolgação da torcida em relação a um bicampeonato. Além disso, garantiram uma sequência para Jorge Fossati, que já naquele momento estava pressionado. Ele que viria, após as quartas-de-final, a ser demitido.
Emelec 0x0 Inter
Jogando sem muita intensidade, e dentro de um modelo imposto por Fossati (de empates fora e vitórias em casa), o Inter não foi bem. Tanto que Abbondanzieri se viu obrigador a salvar, em 3 oportunidades claras de gol. A melhor chance do Inter foi desperdiçada por Walter, após um chute fraco cara-a-cara com o goleiro. O empate deixou a equipe muito próxima da classificação.
Inter 3×0 Deportivo Quito
O Inter precisava de um empate para seguir vivo no sonho do bicampeonato. Mas acabou fazendo mais que isso. Voltando a demonstrar uma grande intensidade, após o morno embate contra o Emelec, o colorado não tomou conhecimento do adversário equatoriano. Andrezinho deu números iniciais ao confronto com um golaço de esquerda, na gaveta. Já no segundo tempo, Bolívar ampliou em cabeçada certeira. Nos acréscimos, Giuliano deu números finais a disputa e classificou o colorado. Como líder, e com a sexta melhor campanha, o adversário, nas oitavas-de-final, seria o argentino Banfield, do, na época, jovem e promissor colombiano James Rodríguez.
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