O ex-zagueiro do Cruzeiro, Dedé, concedeu entrevista ao canal Flow Sport Club no YouTube, nesta quinta-feira (14). O atleta relembrou a sua passagem pelo clube mineiro e destacou os motivos que o levaram a acionar a Raposa na Justiça. Segundo os relatos, mesmo o jogador abrindo mão de valores e reduzindo seu salário, a diretoria celeste o sacaneou, para além das dívidas salariais.
Conforme Dedé, ele foi avisado por seus empresários a respeito de uma ordem no clube para priorizar o pagamento dos atletas que estavam dentro do elenco. Porém, o zagueiro aguardou e, de acordo com seus relatos, descobriu posteriormente que a direção havia quitado dois meses de salários, enquanto ele não havia recebido. Foi aí que decidiu entrar na Justiça contra o Cruzeiro.
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– Veio uma mensagem lá de dentro que os caras não vão te pagar mais. Que era o (salário) reduzido. Reduzido, do reduzido do reduzido. Não vão te pagar e priorizar quem está lá dentro. Eu arquei com todos os meus custos de cirurgia, fisioterapia, para voltar ao clube. Como que não vão me pagar? Aí decidi esperar. Esperei um mês, dois meses e nada. Aí um amigo meu lá de dentro me ligou e perguntou se eu recebi, porque o pessoal recebeu dois meses. Eu estava indo para o Rio, parei o carro e não tinha recebido. Aí achei sacanagem por tudo que fiz pelo clube, pelo que estava fazendo, trabalhando para cacete. Foi onde decidi buscar os meus direitos.
Dedé acionou o Cruzeiro na Justiça em janeiro deste ano. Na petição, cobrou mais de R$ 35 milhões de salários atrasados, verbas rescisórias, cláusula compensatória, FGTS, férias, 13º e indenização por danos morais. No entanto, a ação perdurou por alguns meses, já que o Cruzeiro alegou que o atleta não tinha condições de exercer a profissão. Dedé e Cruzeiro só chegaram a um acordo em julho, com a Raposa se comprometendo a pagar R$16,6 milhões até dezembro de 2026, em 60 parcelas.
E falando em fim de vínculo, Dedé declarou ter tido uma saída conturbada do clube, o que o chateou muito. Além disso, disse ter tratado todas as suas necessidades com a Justiça, sem nenhuma ligação por parte da diretoria
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– Minha saída também foi conturbada. Os caras alegaram invalidez, tentaram fazer sacanagem comigo. Fui a BH para fazer uma perícia, fiz a perícia e fui aprovado. Alegaram que não deu o dia, tive que voltar para BH para fazer a perícia. Fiz e fui aprovado de novo. Foi o maior rolo, parada grande, de chatear. Tratei tudo com a Justiça, (entre) advogados. Mas nunca tive uma ligação do presidente. Eu dentro do clube, eu era atleta do clube. Com cirurgia. Se eu chego, estou aqui no seu trabalho, um funcionário seu machucou o dedo, quebrou o dedo. Você não vai ligar perguntando como está a recuperação? O cara nunca me ligou, nunca deu uma satisfação. ‘Pô, Dedé, se recupera no clube, a gente conversa depois sobre o que vamos fazer’. Nunca. Eu, se eu estivesse no Cruzeiro tratando, poderia estar jogando há muito tempo. Nessa época da briga, porque a briga também me atrasou muito. Se eu não tivesse essa briga com o Cruzeiro, estaria melhor há muito tempo.
Apesar disso, Dedé fez questão de demonstrar o seu carinho pela instituição Cruzeiro e destacar que, mesmo de longe, segue acompanhando o clube.
– Todo sentimento que me entreguei pelo clube, ainda tenho, porque o clube não tem nada a ver com quem dirige a instituição. Pelo clube sempre terei carinho. Os clubes que eu acompanho são o Cruzeiro, o Vasco e o Volta Redonda.
AINDA NA SUA PASSAGEM…
Dedé também relembrou seus primeiros anos no Cruzeiro, quando sofreu sua primeira lesão séria no clube, ainda em 2014. Durante uma partida contra o América-MG, ele quebrou a patela do joelho e permaneceu em campo mesmo sentindo dores no local. Conforme ele, na ocasião, o seu tratamento foi conservador, sem cirurgia, o que retardou o retorno aos gramados. Ele ainda rebateu as críticas recebidas por parte da torcida do Cruzeiro na época.
Confira o relato do atleta na íntegra:
– No meu segundo mês a patela quebrou. Foi o que a torcida do Cruzeiro me critica. Machuquei em fevereiro. O jogo era Cruzeiro e América. Apoiei com a perna e senti o estalo. O Bruno Rodrigo já tinha operado e falou ‘isso é fibrose, vambora’. Joguei até o final, o joelho inchou, botei gelo e voltei. Joguei com o joelho quebrado. O doutor falou para espera para calcificar. A gente é leigo. Três semanas, fazia tomografia, fiquei seis meses com a perna imobilizada. Se faço a cirurgia, estaria jogando em seis meses. Fiquei seis meses para depois fazer a cirurgia, mais sete meses. Sou criticado. Mas zero culpa minha. Eu trabalhava. Foi desgastante ficar seis meses com a perna imobilizada. Dormia com aquilo. Só andava com a perna reta, sofria. Voltei em 2016, operei. Fiz uma cirurgia no joelho esquerdo [que estava sobrecarregado]. Voltei em 2018, voltei bem, mas ainda tomava remédio pra jogar. Voltei para seleção, fui campeão da Copa do Brasil. 2019 comecei bem, brigando, as pessoas me colocando em lista. Até as coisa do Cruzeiro andarem para trás. Foi um atraso. Eu não digo que foi erro, foi aposta errada comigo. Um ano parado, sendo que poderiam ter estreitado isso. Mas… eu sou cabeça boa, não aponto dedo pra ninguém, primeiro a chegar, último a sair, só queria me recuperar”, prosseguiu. [Em] 2020 deu a turbulência, mudou tudo, mandaram todos os fisioterapeutas embora. Ficou um rolo, eu falei: ‘Não vou conseguir me recuperar rápido, deixa eu ir para o Rio para voltar bem, o mais rápido. Liberaram. Tentei treinar no campo, meu joelho inchava. O fisioterapia falou para procurar um médico. Tudo isso para voltar. Procurei o Tannure. Era sem cirurgia e com vida útil menor no futebol, ou operar e ter uma vida útil maior. Foi o que foi feito. Cirurgia, maca… foi o período que o torcedor falando que neguei, me bateram para caramba, mandando mensagem para família. Torcedor está nem aí, não vê história nenhuma, acha que tá certo, julga.
RELAÇÃO COM CENI!
Ainda em entrevista, Dedé relembrou a sua relação com Rogério Ceni, treinador do Cruzeiro em 2019 e 2020. Segundo ele, na confusão com Thiago Neves, ele até tentou dialogar com o comandante celeste à época. Ele também deu a sua opinião a respeito da discussão entre o meio-campista e Ceni.
– Depois, no jogo contra o Ceará, empatamos. Mas eu via que o jogo precisava de um Thiago Neves, que não entrou pelo atrito com o Rogério. Eu sou um cara que fala, então eu fui sincero. Cheguei no vestiário e falei ‘pô, Rogério, não precisa ser amigo, temos que ser profissionais e tal’, e ele deu as costas. Depois disso, deu aquela confusão com diretoria, eu fiquei nervoso, e depois veio a demissão. Acho que o Rogério teve uma reunião ruim com o time. Foi no jogo contra o Inter que teve o maior atrito com o Rogério Ceni com os atletas. O Thiago Neves deu uma declaração sobre ele ter posto o Jadson na lateral e disse que ‘jogo importante não pode inventar’. O Rogério não gostou. Aí acabou. Nosso time ficou no chão, ninguém tinha força para nada.
Dedé chegou ao Cruzeiro em 2013 e só encerrou o seu vínculo com o clube, de fato, no início deste ano após o processo na Justiça envolvendo as partes. Neste período, o zagueiro defendeu as cores celestes em 188 partidas e marcou 15 gols. Dedé conquistou com a Raposa dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014), duas Copas do Brasil (2017 e 2018) e três Campeonatos Mineiros (2014, 2018 e 2019).
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