Nesta terça-feira (17), Ana Miranda e Débora Tavares, em nome do Grupa Galo, coletivo feminista de torcedoras do Atlético-MG, se reuniram com Sérgio Coelho, presidente do clube mineiro. Na ocasião, as representantes do grupo entregaram ao mandatário um documento com propostas para a valorização e o crescimento do futebol feminino, bem como ações para combater o preconceito e a intolerância.
O encontro aconteceu na sede administrativa do Atlético-MG, em Lourdes, e contou com a presença, também, da coordenadora de futebol feminino do Galo, Nina Abreu; do diretor de comunicação, André Lamounier; do conselheiro, Fred Couto; e do assessor, Pedro Tavares.
Nas redes sociais, o coletivo agradeceu pelo espaço, pela receptividade e destacou a crença no potencial de transformação que o Atlético-MG carrega.
– Agradecemos a receptividade e a abertura ao diálogo. Acreditamos no poder transformador do clube, no seu papel social e estamos certas de que a reflexão e a adoção das ações propostas poderão levar o Atlético a um patamar de protagonista, também fora dos gramados, escreveu o coletivo.
A iniciativa foi promovida pelo Grupa Galo, como resposta à contratação do técnico Cuca, apresentado nesta terça-feira (16) pelo clube mineiro. O treinador foi condenado em 1989 por violência sexual contra pessoa vulnerável, no caso que ficou conhecido como ‘Escândalo de Berna’. À epoca, Cuca era jogador do Grêmio.
Antes do anúncio do técnico, que ocorreu no dia 5 de março, parte da torcida alvinegra levantou a hashtag #CucaNao, que esteve entre os assuntos mais comentados no Twitter. O coletivo, inclusive, soltou uma nota em seu site oficial explicando as motivações da hashtag.
Um trecho do documento apresentada pelo Grupa ao Atlético-MG
Na noite desta terça-feira, a Grupa, em seu site oficial, emitiu a Carta Aberta a Diretoria do Galo. O documento contempla as propostas apresentadas na reunião, bem como um histórico do clube. Confira um trecho das propostas abaixo:
A Grupa propõe-se ao enfrentamento do machismo e de todas as formas de discriminação às minorias, notadamente, aquelas relacionadas à cultura do futebol. Por amor ao Clube Atlético Mineiro, apresentamos à direção do clube propostas de ações concretas, com o objetivo de eliminar comportamentos discriminatórios contra nossos torcedores e de nossa torcida com relação a rivais e atletas:
1- Estabelecimento de um núcleo de ações afirmativas – ligado à diretoria – voltado para o diálogo com toda a diversidade de torcedores, visando tornar o clube uma instituição mais democrática e realmente ligada à Massa. Esta ação reforçará a identidade de clube do povo, além de trazer o clube para o protagonismo em responsabilidade social, na promoção da igualdade racial e na valorização da diversidade étnica, sexual, religiosa e cultural dos seus torcedores e torcedoras. Inclusive, promovendo negros e negras a seu estafe dirigente, o Conselho Deliberativo.
2- Criação de mecanismos de transparência da gestão do clube e de participação do torcedor nessa gestão. Estas medidas fortalecem a legitimidade e a diversidade da administração da instituição, refletindo a realidade de uma torcida popular, diversa e de massa. A criação de mais categorias de sócio torcedor, com preços populares, além de ingressos mais baratos, assim como o estabelecimento do voto e da possibilidade de ser votado para o sócio, são realidades que alguns clubes brasileiros já adotaram com resultados positivos.
3- Planejamento anual das ações sociais do Clube, notadamente, em datas referentes ao enfrentamento da homofobia, machismo, racismo e capacitismo com, por exemplo, a utilização de braçadeiras, camisas, faixas alusivas aos temas durante os jogos. Para que o alcance dessas ações seja ampliado, os temas devem ser abordados com funcionários e atletas do clube, de maneira que não sejam meramente veículos de mensagens que os próprios integrantes desconhecem. Inclusão, na formação das categorias de base, profissional, time feminino e Galo FA, e demais modalidades esportivas, de conteúdo histórico e cultural sobre a contribuição de negros e mulheres na sociedade mineira e brasileira.
4- Produção e veiculação de material educativo as redes sociais e em inserções da TV Galo durante os jogos. Cabe lembrar que há um movimento mundial, que abrange a CONMEBOL e a CBF, com intuito de punir os clubes por práticas discriminatórias durante as partidas. Faz-se necessário que torcedores sejam esclarecidos e sensibilizados sobre a importância e as razões destas medidas, que vão muito além de perda de pontos em campeonatos ou multas dadas pelas federações, conforme o próprio Estatuto do Torcedor, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva e o Estatuto de Promoção da Igualdade Racial, entre outros. Essas campanhas devem contemplar, ainda, a defesa do respeito à vida, à segurança e à privacidade de atletas e suas famílias, os quais têm sido constantemente vítimas de campanhas de ódio nas redes sociais.
5- Inclusão no estatuto do Clube de princípios institucionais explicitamente contrários à intolerância e discriminação por parte de dirigentes, atletas, funcionários e conselheiros
6- Estabelecimento de diretrizes objetivas a serem transmitidas à equipe responsável pela segurança do estádio, nas partidas em que o Atlético seja mandante, para que estejam capacitadas a lidar com denúncias e manejo de situações não apenas de conflito, mas de discriminação ou preconceito, de maneira eficaz e humanizada.
O documento completo você confere clicando aqui.
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