“Maria, Maria, Maria é um dom”. É assim que Michelle Mara, torcedora do Cruzeiro, ao lado de sua mãe, também cruzeirense, finda o depoimento de sua história de vida e com o clube, contada nesta terça-feira (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, pela Raposa. A jovem, de 18 anos, é uma mulher transgênero e apaixonada pelo time mineiro, conforme ela mesmo se caracteriza.
– Durante toda a minha vida eu vesti Cruzeiro. Hoje, além do Cruzeiro eu visto Maria de Minas. Eu sou a Michelle Mara, uma mulher trans e cruzeirense.
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Michelle Mara, nos minutos inciais do vídeo postado pelo Cruzeiro, conta de onde vem a sua paixão pelo clube celeste. O amor pelo time azul e branco surgiu ainda antes de seus entendimentos. Surgiu durante a gestação da mãe e em seus primeiros dias de vida.
– Minha relação com o Cruzeiro começou desde antes de eu nascer, na verdade. A minha mãe estava grávida quando o Cruzeiro ganhou do Paysandu por 2 a 1 em 2003 e foi uma coisa muito complicada de levar, porque grávida, Mineirão lotado e minha avó não queria que minha mãe fosse, meu pai também não, mas ela foi. Com 15 dias eu já ‘tava’ lá no Mineirão, fralda, mamadeira e tudo.
Desde então, o amor pelo clube só cresceu e, de tanto ter o Cruzeiro como casa e paixão, Michelle passou toda a sua transição no estádio. Os desafios, no entanto, foram muitos. De preconceito a assédio e desrespeito. Ela passou por tudo isso.
– O amor pelo Cruzeiro foi crescendo cada vez mais, 2013, 2014 já era torcedora fanática. Era para ser Cruzeiro mesmo. É difícil pensar em um dia em que eu não fale do Cruzeiro. (…) Cada vez mais eu gosto de azul, amo ir no Mineirão. Eu gosto do Cruzeiro. Jogadores vem, jogadores vão, mas o Cruzeiro fica e é do Cruzeiro que eu gosto. Eu vivi a minha transição praticamente dentro do Mineirão, porque cada jogo que passava era uma nova fase da minha transição e claro que isso não é entendível para a cabeça de algumas pessoas. Já tive muito problema em relação a estádio, a roupa que eu ia, já fui ameaçada de morte, já fui assediada várias vezes, já fui barrada de poder entrar nos lugares por causa do jeito que eu ‘tava’ vestida, a minha aparência. Inclusive, um torcedor aparentemente bêbado de uma certa torcida organizada gritou para mim: ‘olha lá o transviado’.
A mãe da jovem também conta seu relato. Segundo ela, a filha enfrenta muitos desafios no estádio.
– Infelizmente algumas pessoas, por causa da aparência, da opção, da orientação, começa a julgar. Nós já chegamos no Mineirão com pessoas olhando de cima a baixo e criticando com o olhar. Infelizmente temos que enfrentar pessoas que parece que preferem criticar do que respeitar.
Para Michelle, ter a mãe como companheira de estádio é especial. Também, destaca a importância do apoio da matriarca dentro e fora dos estádios, para além do amor pelo Cruzeiro passado de uma para a outra.
– É muito importante ter ela do meu lado como pessoa, como mãe, amiga, companheira de estádio também. Ela me ajuda muito. Ela já me defendeu muito dentro e fora do estádio. Ela me ensinou a amar o Cruzeiro, a apreciar a história.
Confira o relato na íntegra:
Na postagem, a Raposa também declarou ser importante “colocar dedos em feridas que são criadas por todos nós”, além de afirmar a necessidade de respeito.
– No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, o Cruzeiro dará diversas demonstrações de apoio. Mas, além do apoio, é preciso colocar o dedo em feridas que são criadas por todos nós. Não tem Dia do Orgulho sem que repensemos como a ausência de respeito machuca repetidamente.
O Cruzeiro entra em campo nesta terça-feira (28), às 21h30, para enfrentar o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Mais ações devem ser feitas no Mineirão em homenagem a data e também cumprindo parte do acordo feito pelo clube pelos cantos homofóbicos ecoados pela torcida na partida contra o Grêmio, também pela segunda divisão nacional.
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